domingo, 4 de dezembro de 2011

Trás da Ponte - Faz Sentido - Parte 3

                                              Conto "Faz Sentido" de Eduardo Palaio
                                                                        Parte 3

... - E por largos períodos, digamos anos, andou a viver longe da sua terra,não é verdade?
-interrogou ignorando a minha perplexidade - Faz sentido, muito interessante - comentou
quando admiti que vivera por períodos fora da terra mãe.
Mais um espaço de silêncio após o que, de rajada, passou a explicar:
- O sonho que você tem tido tem tudo a ver com angústias recalcadas,angústia da ausência
do seu meio natural: o Seixal. O Seixal, pois! Repare que uma marquise ou um estúdio como
lhe aparecem no seu sonho são espaços virados ao exterior,como um sítio ou uma terra qualquer
mas depois vêm os pormenores de identidade como a luz clara e natural - única - e,contraditoria-
mente,um espaço fechado.Já viu que o Seixal é um espaço bem delimitado logo fechado,nesse
sentido; os sapais de Corroios a um lado, poente, todo o rio e as secas a norte - para lá só 
nadando - do nascente mais rio - mais água, e a sul,apertando-vos contra o rio a barreira, a vossa 
montanha,a vossa parede,ocre de saibro e verde escuro de pinheiros mansos.E os ossos e os orgãos
petrificados que outra coisa não são que a referência a um passado presente nas pedras,um passado
querido - daí a alegoria da esposa, do amor - o fígado, o coração ou seja os palácios, as quintas, as
casas antigas,as fábricas,os estaleiros, os barcos; os pulmões - as manchas de pinheiros mansos...
O autocarro : claro que é a transmutação sem perda de identidade, compatível com o progresso e
com a ideia de movimento,daí essa imagem.

                                                                   continua

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