quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Trásdaponte - Estórias com Gente de Trásdaponte

ESTÓRIAS COM GENTE DE TRÁSDAPONTE

LARGO DA IGREJA ANOS 50 SÉC. XX

                                              de   Eduardo Palaio

Parte 1

                                       
                                 Senhora minha Avó

Em primeiro lugar estimo que esta a encontre de boa saúde,
nós estamos bem, felizmente.Estou-lhe a escrever esta carta
porque a minha mãe mandou que assim o fizesse e até era
para ter escrito há mais tempo mas como apanhei asiática só
só agora o estou a fazer. Apanhei a gripe num dia em que tudo
me correu mal em que eu saí fechei a porta de casa desci os
degraus grandes de pedra que se alargam em muito escuro
e depois saí à rua pela porta muito larga e alta  também e
fui  ao pão foi atrás de mim um gatito preto chamado
chico que é do senhor Manuel que é o dono da taberna
que por ter uma grande chave se chama chave de ouro
que fica no mesmo prédio logo à direita de quem sai o tal
portão grande e por debaixo da nossa casa que é no primeiro 
andar. À porta da taberna tem um banco corrido e aí às vezes
me sento e vem ter comigo o gatito que se chama chico. 
Ele já me conhece anda atrás de mim como se fosse um
dos cachorrinhos que já tivemos e que tinham todos os
nome de mondego ( ou foi em Sintra ou em Pero Pinheiro
ou aí na Figueira, aí não que não tínhamos quintal e não foi
na Figueira que eu apanhei a febre da carraça ).
Nesse dia assim fui e o gatito chico acompanhou-me até
à padaria e eu sempre a ver se ele não fugia para o largo
da praça e por isso me distraí.


                                      
Pedi o pão saco de pano numa mão e o dinheiro na outra
"eu queria faz favor duas carcaças de dezasseis" assim disse
à senhora que fala a modos de ser espanhola e se chama
dona Júlia e já ia a sair a porta com o pão quando ela me
gritou com uma voz como se fosse um pavão daqueles
que há no parque do Palácio da Pena:" ó menino
esqueceste-te do troco!" maneira dela falar para me dizer
que me ia embora sem pagar e a verdade é que ia a sair
distraído que estava com os três mil reis e mais os dois
tostões na mão que vergonha voltei atrás senti que estava
vermelho que nem um tomate a cara abrasava-se-me
quem estava ao balcão  quando eu voltei atrás estavam
todos a rir. Acho que foi por isso que apanhei mais
facilmente as febres da asiática há quem não a tenha 
apanhado.

                                                                          continua

Clique na foto para ampliar e poder visualizar o nome
de alguns moradores do Largo





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