terça-feira, 27 de novembro de 2012

Trásdaponte- "A pequena janela do Beco do Alpendre"


A "Pequena janela do Beco do Alpendre", é um conto de Ângela Piedade,
uma Trádapontense, nascida na Rua 1º de Dezembro.
O Conto será publicado em duas partes




A pequena janela do Beco do Alpendre
                                                                   
                                                                  Parte 1

A prima Idalina, num destes dias, colocou a foto do Beco do Alpendre e eu fiquei  a olhar… a olhar e a achar que me fazia recordar algo, mas o que seria? A degradação avançada, o caricato dizer, “condomínio fechado”, com gradeamento, não faziam parte da minha memória…mas se era o Beco do Alpendre, onde estava a janelinha da cozinha da Taberna do Elói? Sem essa janela já não era o meu Beco!
Hoje Domingo, fui almoçar ao Pestana, (Solar dos Reis…não faço por menos!), e quando saía do restaurante, cheia de curiosidade, lá fui dar uma corridinha até ao Beco do Alpendre, na ânsia de a minha memória não me atraiçoar, (com a idade já muita coisa falha!) a janela que eu procurava e não aparecia na foto, ainda existia, ela estava lá quase rente ao chão, a mais pequena do beco com um gradeamento, logo a primeira janela do lado direito quando se entra e que a foto, se calhar por acharem-na insignificante, cortou.
Aquela janela… pequena felicidade de algo da minha infância, que teimosamente perdurou e por instantes, permitiu-me uma viagem no tempo, dos 7, 8 anos, a escola primária…
A Amélia e a Carolina eram da classe da D. Aurora, a nossa querida professora, com uma paciência infinita para nos aturar e o melhor: não dava reguadas! Findas as aulas, trabalhos de casa e a seguir brincadeira!!!
Muitas foram as vezes que em vez de ir depois das aulas, para casa da minha avó Maria na Rua 1º de Dezembro, rumava directo com a Amélia para a taberna dos pais, a Taberna do Elói e esse era sempre dia de festa. Naquela mesa comprida de mármore junto à janela a um canto, fazíamos os trabalhos de casa, sob a vigilância atenta da D. Ludovina, mãe da Amélia, que ralhava connosco, estávamos sempre na gargalhada…
No final da tarde, chegavam os operários     para comerem uma bucha, traziam uma navalhinha no bolso e com ela cortavam os queijos com um ar rançoso que havia dentro de um frasco com azeite, no balcão da 
taberna, num pires,"jaquinzinhos" coisa pouca, um pedaço de pão e o famoso copo de três.

                                                                                                     continua
                                                                                                      
                                                                                                     Ângela Piedade

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