A "Pequena janela do Beco do Alpendre", é um conto de Ângela Piedade,
uma Trádapontense, nascida na Rua 1º de Dezembro.
O Conto será publicado em duas partes
A pequena janela do Beco do Alpendre
Parte 1
A prima Idalina, num destes dias, colocou a foto do Beco do
Alpendre e eu fiquei a olhar… a olhar e a achar que me fazia recordar algo, mas
o que seria? A degradação avançada, o caricato dizer, “condomínio fechado”, com
gradeamento, não faziam parte da minha memória…mas se era o Beco do Alpendre,
onde estava a janelinha da cozinha da Taberna do Elói? Sem essa janela já não
era o meu Beco!
Hoje Domingo, fui almoçar ao Pestana, (Solar dos Reis…não
faço por menos!), e quando saía do restaurante, cheia de curiosidade, lá fui
dar uma corridinha até ao Beco do Alpendre, na ânsia de a minha memória não me
atraiçoar, (com a idade já muita coisa falha!) a janela que eu procurava e não
aparecia na foto, ainda existia, ela estava lá quase rente ao chão, a mais
pequena do beco com um gradeamento, logo a primeira janela do lado direito
quando se entra e que a foto, se calhar por acharem-na insignificante, cortou.
Aquela janela… pequena felicidade de algo da minha infância,
que teimosamente perdurou e por instantes, permitiu-me uma viagem no tempo, dos
7, 8 anos, a escola primária…
A Amélia e a Carolina eram da classe da D. Aurora, a nossa
querida professora, com uma paciência infinita para nos aturar e o melhor: não
dava reguadas! Findas as aulas, trabalhos de casa e a seguir brincadeira!!!
Muitas foram as vezes que em vez de ir depois das aulas, para
casa da minha avó Maria na Rua 1º de Dezembro, rumava directo com a Amélia para
a taberna dos pais, a Taberna do Elói e esse era sempre dia de festa. Naquela
mesa comprida de mármore junto à janela a um canto, fazíamos os trabalhos de
casa, sob a vigilância atenta da D. Ludovina, mãe da Amélia, que ralhava
connosco, estávamos sempre na gargalhada…
No final da tarde, chegavam os operários para comerem
uma bucha, traziam uma navalhinha no bolso e com ela cortavam os queijos com um
ar rançoso que havia dentro de um frasco com azeite, no balcão da taberna, num pires,"jaquinzinhos" coisa pouca, um pedaço de pão e o famoso copo de três.
continua
Ângela Piedade
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