ESTÓRIAS COM GENTE DE TRÁSDAPONTE
OS NOVE UNIDOS DA MEIA-NOITE
( Grupo de Amigos da Sociedade Timbre Seixalense )
Estamos nos anos 70 do séc. XX, as noites de Verão são quentes e
convidativas para a esplanada da verbena da Timbre.Comiam-se
caracóis e amendoins, e bebiam-se uns pirolitos e umas cervejinhas,
e também se jogava aos matraquilhos. Havia um grupinho, (não o nosso)
que sentado no muro da curva da Timbre, para além de apanhar a brisa
que vinha do rio, se dedicava a cortar na casaca dos vizinhos, e de quem
por ali passava.
Havia assim, sempre tema de corte, ou seja, de conversa.
Nós, a rapaziada, na altura 18,19,20 anos,tínhamos o costume de nos
juntarmos no muro, quando terminava o horário dos namoros,ou seja,
por volta das 23.30 horas.
Assim, e quando estávamos todos,lá partíamos para a nossa volta, que
começava muitas vezes na taberna Chave D'ouro, onde se bebia uma
ginginha ou um branco velho.
A paragem seguinte,era no bar do Seixal F. Clube,onde na altura estava
o nosso amigo Luís Tavares, que era um excelente mestre de cozinha.
Se fosse hoje seria um ótimo Chef.
Com a barriguinha já composta, seguia-se em direcção ao Bairro Novo.
Não se podia fazer muito barulho com a conversa, porque ainda estávamos
longe de Abril de 74.
E a volta continuava até Paio Pires ao café do Ti Inácio (cagaiscas),
Cavadas,Torre,Arrentela e Seixal, já por volta das 3 da manhã, com a
brisa do rio já mais fresca.
A conversa durava sempre para lá das 4 horas. Mas era Verão, e no
dia seguinte não se trabalhava. Iam-se fazendo planos para ir com as
namoradas até à praia do Alfeite, onde íamos a remos no barco do
João Peixoto, e apanhava-se bom peixe, que servia para petisco,sendo
cozinheiro o Márinho ( Calhocas ).
Ás vezes, quando o pessoal tinha uns trocos a mais, a volta era outra.
Camioneta da Beira-Rio em direcção a Cacilhas,para comer umas
bifanas e beber umas imperiais no Farol. O regresso ao Seixal,era na
última carreira às 2.45 da manhã.Bons tempos. Eram tempos em que
se cultivava a amizade, que ainda hoje perdura,longe das tecnologias.
A Timbre era o local de encontro de famílias, onde se trabalhava com
amor à camisola.
Uns na verbena,outros nas direcções, na banda, no teatro, na biblioteca.
Computadores nem pensar,televisões havia poucas, então era a Sociedade
o centro de tudo que era actividade e convívio.
A propósito de televisão,uns anos antes,(60...) existia uma na verbena,que
era religiosamente controlada pelo Ti Anazário, um Timbrense ferrenho,
mas com pouca paciência para os putos, que aguardavam ansiosamente
sentados no banco de madeira corrido, que ele ligasse a televisão, e tinha
de estar tudo calado,se não nada para ninguém.
Era o tempo de séries como o Robim dos Bosques,Ivanhoe,Mascarilha
(alô Silver), Homem Invísivel,Rim-Tim-Tim,Lassie e outras que faziam
as delícias dos putos.Às vezes lá se bebia um pirolito,ou outro refresco,
que eram sempre repartidos por toda a malta sentada no banco.
Aliás, o grupo dos 9 da meia-noite,era todo ele constituído por estes
"fregueses" do banco de madeira da verbena.
Ficam os seus nomes: Artur Avelar, João Tavares, João Sado,José Tomás,
(falecido),Rui Jorge (falecido),António Anjos, Márinho (falecido),
Nelson Teotónio e José Belicha. A estes juntavam-se outros, como o
Luís Fernando (Alfama), que vinha para o Seixal nas férias e fins de semana
e o António Furtado.
À medida que o tempo foi passando,veio a tropa e os casamentos, e o
grupo dispersou-se, mas agora, já reformados,(quase todos) estamos novamente
juntos no Trás da Ponte.
Há que não deixar morrer as coisas boas,como a amizade, e sobretudo a
Timbre Seixalense.
Um abraço para todos
João M. Tavares
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