segunda-feira, 16 de julho de 2012

Trásdaponte - O Bife - Parte 2

O Bife
( Parte 2 )

O tempo é escasso, ás dez para a uma o "búzio" da fábrica vai tocar de novo.
Tempo curto também para o que a Maria Rosa tem de fazer,naquele 
intervalo, de todos os dias: dar o almoço aos filhos que têm de ir para a escola,
ir a casa dos sogros levar a sopa,fazer a marmita do marido e levá-la ao 
trabalho dele,recolher a roupa da corda e pendurar outra porque na Rua  dos
Carpinteiros de Machado, antiga "dos valentes", onde mora, o sol que 
melhor seca é o da tarde.
Mas hoje ainda tem mais pressa, o tempo é mais apertado do que em qualquer 
outro dia da semana. É sempre assim em terças-feiras como esta: tem de ir,
primeiro que tudo, ao talho da cooperativa, atrás da barroca - reza para que mal 
chegue seja logo ser aviada. Uma vez por mês o Joaquim, assim se chama o marido,
tem de comer um bife e hoje é a terça-feira em que assim deve ser. Carne fresca
se não "a realeza" não quer - frigorífico há-de ser um dia! - as peças que vêm do 
matadouro são desmanchadas à segunda-feira e só são postas à venda no dia seguinte.
Carne de vaca,só uma vez por mês porque o dinheiro não
dá para mais. Um bife porque o amor que a Maria Rosa lhe
tem, assim o deseja.Se trabalhassem os dois na fábrica,
como sucede com tantos casais, a semanada não daria para esse
luxo.Nem que fosse só pelo S. Pedro, ou pelo Natal ou Ano Novo.
Pela Páscoa talvez se coma frango.
Põe as duas colheres de banha na frigideira de esmalte, o sino 
da Igreja de Nossa Sª. da Conceição, dá uma badalada seca - meia hora.
Depois de esperar que a gordura derreta a Maria Rosa deposita
amorosamente o bife vermelhão temperado de sal e alho cortado
fino e um toque de pimenta. O tempo de fritar é o de aquecer o
arroz branco feito na véspera, arroz do melhor, sem gorgulho,
que "ele é muito fino", o marido.
Marmita pronta, arrumada na lancheira e aí vai a Maria Rosa a 
caminho do barco da carreira que ainda há bocado chegou e
já vai partir no horário da uma. O "latagão-come-bifes" do
marido trabalha de maquinista no "ferry", que vai
sair para Lisboa, outra vez.


                                                             (  Continua )





Sem comentários:

Enviar um comentário