quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Trásdaponte - Aniversário da Timbre 1972

Apresentamos hoje a 2ª Parte do filme
" Aniversário da Timbre 1972".
O Eduardo Palaio é um dos protagonistas do dito. Na
época era o Presidente da Assembleia Geral da "nossa"
Sociedade Velha, no seu estilo característico, o Eduardo
conta-nos como foi.

A primeira impressão do visionamento do filme é devastadora:
tanta gente que já não está, com quem vivemos, tanto rosto 
amigo,tanto jeito que nos moldou, que faz parte dos nossos ossos,
os nossos músicos; a nossa banda da vida.

A minha parte, no tempo filmado,naquela sala, está na mesa.
Sentam-se, segundo o protocolo: ao centro, o convidado de honra,
 o governador civil (gorducho), à sua direita o representante da
Câmara, o vereador Bragança, à esquerda o Presid. da Fed. Port.
das Colectividades, e na ponta oposta da mesa eu, o presidente da
Assembleia Geral da Timbre. Sentados ainda, em mesa,em lugar de
destaque, o Capitão Louro,figura de prestígio da Sociedade,aquele 
que se vê discursar com jeito de poeta, e o nosso representante na 
Federação.

Falou-se e discursou-se: os da mesa outros: o jovem Furtado,
vice-presidente, em nome da Direcção, o distinto Emílio Rebelo,
o Capitão Louro, vigoroso. Não falou, na sua modéstia plena
de dignidade o maestro Pinto. Nos discursos, seguiu-se a
ordem protocolar, depois que falou o vereador, falei eu na
qualidade de presidente da Mesa da Ass. Geral e por fim,para
fecho, a " gordura" : levantou-se, gesto de "caudilho",
arrebatamento patriótico, e entre outras afirmações e votos,
subliminarmente, propagandeou a " primavera marcelista",
a despropósito da sessão, talvez entusiasmado pela sala cheia,
da recepção calorosa ( um parêntesis para dizer que a Direcção
da Timbre, responsável pelos convites, era na ocasião, em
resultado de um aproveitamento de um vazio, constituída por
gente conotada com o regime; coisa abstrusa na tradição
da Sociedade Velha ).

O governador Civil disse o que quis e foi aplaudido. Só que o
Presidente da Ass. Geral, entendeu retomar a palavra, contra 
o protocolo e o hábito,e contestou o discurso do representante
do " governo marcelista". Não me recordo, mas as minhas 
últimas palavras talvez tenham sido:
"agora sim,está encerrada a sessão".

Essa parte, o filme não registou, ou foi cortada conforme os
mandamentos do tempo que se vivia. Faltavam dois anos.

Foi uma bronca. Uma figura de prestígio da Timbre (e muito
minha amiga, com idade de ser meu pai) veio segredar-me
ao ouvido, que fora " uma vergonha, convida-se o senhor e
depois faz-se aquela desconsideração..."

Mas deixemos a sessão e fixemo-nos na parte mais importante
do filme, com as imagens da chegada das excelências em
automóvel mercedes da época ( já vem de longe essa de se pensar
que os carros dão prestígio aos cargos ). O presidente da
Direcção acorre solícito a abrir a porta do veículo donde sai o
governante e logo o vereador; e agora reparem no sujeito
( o José Loja ) que está junto à entrada da sociedade: nem tugiu
nem mugiu, boné na cabeça ( não fez como se dizia, a salvação,
descobrindo-se ) mãos nos bolsos, com " olímpica indiferença",
encostado, lazeirão, à parede da Sociedade Filarmónica
Democrática.

Obrigado, bom amigo Irlando por nos trazeres estas imagens.

                                                                            Eduardo Palaio


   
  



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